A realização de sessões de grupos focais em uma instituição de ensino da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica localizada na Região Nordeste do país demonstra que o projeto de pesquisa intitulado "Mediações entre a escola e o mundo do trabalho na formação de técnicos de nível médio", está a pleno vapor. No período de 20 a 28 de novembro, o coordenador do projeto, o Prof. José dos Santos Souza, esteve na instituição de ensino da Região Nordeste selecionada aleatoriamente para realizar sessões de grupos focais com estudantes de ensino técnico de nível médio. Nesta oportunidade, o professor também realizou um Workshop com coordenadores de estágio e com coordenadores de curso, além da equipe pedagógica da instituição investigada, apresentando resultados preliminares da pesquisa, em forma de contrapartida institucional. A pedido da Direção do Campus, também foi realizada uma palestra sobre elaboração de projetos de pesquisa, para instrumentalizar candidatos ao ingresso em cursos de mestrado e doutorado.
A recepção, como já era esperado, foi bastante calorosa. Aliás, esta é uma das caraterísticas mais marcantes do povo nordestino: o acolhimento. Sempre preocupados em mostrar o melhor da região, foi dispensada toda atenção necessária para que o pesquisador do GTPS fosse bem recebido em instalações adequadas e com todas as suas necessidades atendidas. A Direção do Campus abriu as portas da instituição, colocando a disposição todo seu aparato técnico e operacional para a realização dos grupos ficais. Durante a estada do pesquisador do GTPS, foi-lhe disponibilizada uma sala equipada com computador e acesso à internet, ao lado de uma sala de reuniões, onde ocorreram as sessões de grupos focais, já com Câmeras e microfones devidamente instalados para as gravações, bem como um profissional para operar o equipamento de filmagem. A preocupação da instituição em colaborar para o bom desenvolvimento da coleta de dados foi surpreendente.
A pesquisa sobre Mediações entre a Escola e o Mundo do Trabalho tem como objeto de estudo as práticas de estágio supervisionado desenvolvidas em instituições de ensino da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica na formação de técnicos de nível médio. Seu objetivo é analisar em que aspecto as práticas de estágio supervisionado – principal estratégia de mediação entre a escola e o mundo do trabalho das instituições públicas de ensino técnico – se identificam com trabalho precário. Para isto, toma como referência empírica as práticas educativas desenvolvidas em cinco instituições escolares dessa Rede de ensino, uma de cada região do país. Em forma de levantamento, a pesquisa aborda estudantes de ensino técnico de nível médio, professores, coordenadores de estágio supervisionado, coordenadores pedagógicos, diretores de ensino e diretores gerais dessas instituições. Para a coleta de dados, se utiliza de questionários, entrevistas, grupos focais e análise de fontes bibliográficas primárias.
Em estágio bastante avançado na coleta de dados, a equipe investigativa já vem apontando a evidência de certo fetiche da prática na formação de técnicos de nível médio como elemento determinante da deturpação das atividades. O que a equipe aponta como deturpação consiste em evidências de que o estágio supervisionado vem sendo encarado por docentes e discentes como uma oportunidade de primeiro emprego ou de aquisição de experiência profissional que lhes garante atributos de empregabilidade, ou seja, abre-lhes um porta para o mercado de trabalho. Por outro lado, ao assumir esse caráter, o estágio supervisionado cada vez mais se distancia de sua função que seria a de complementar a formação profissional, oferecendo oportunidade ao estudante de vivenciar os conteúdos de sua formação em plena aplicação em condições reais de trabalho, permitindo-lhe determinada reflexão sobre a prática que, por meio de maior mediação entre os conteúdos escolares e os conteúdos do ambiente de trabalho, se constitui saber profissional. O resultado dessa deturpação é o fortalecimento de ideologias impregnadas de conceitos-chave, tais como: empregabilidade, empreendedorismo, capital humano etc. Ávidos por oportunidades de emprego e renda, como marco de passagem da condição de jovens para a vida adulta, muitos estudantes se submetem, com o incentivo ou até mesmo exigência das instituições de ensino, a atividades produtivas desenvolvidas precariamente, disfarçadas em estágio supervisionado, mas que na realidade não passam de uma estratégia escusa de contratação temporária de força de trabalho minimamente qualificada, a baixo custo ou mesmo gratuita, sem qualquer caráter pedagógico para além da prática em si.
Desde meados deste ano, as evidências preliminares que os pesquisadores apontam já vem sendo divulgadas em eventos científicos da área. Espera-se que, a partir de 2016, os primeiros artigos científicos explorando esses resultados possam ser apreciados por maior números de pessoas interessadas.