sexta-feira, 23 de maio de 2014

ESTÁGIO SUPERVISIONADO OU EXPERIÊNCIA DE TRABALHO PRECÁRIO?

Prof. José dos Santos Souza apresentará pesquisa de pós-doutoramento em seminário promovido pela Faculdade de Educação da UNICAMP


Resultados do projeto de pesquisa "Mediações Entre a Escola e o Mundo do Trabalho" serão apresentados pelo Prof. José dos Santos Souza no Seminário "Estágio Supervisionado ou Trabalho Precário?", promovido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Educação e Diferenciação Sociocultural (GEPEDISC) do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação (FE) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). O evento ocorrerá no dia 05/06/2014, das 14 às 17h, na sala da Congregação da Faculdade de Educação, em Campinas, São Paulo, e contará com a participação de Selma Venco como comentarista.
O estágio supervisionado na formação de técnicos de nível médio é um tema muito pouco abordado pelas investigações da área educacional e, mesmo assim, quando é abordado, na maioria das vezes limita-se ao estágio na formação dos professores. Outras áreas, no entanto, têm dedicado mais atenção a esse tema, embora não o suficiente para torná-lo objeto de preocupação de investigadores mais especializados em trabalho e educação. Nesse conjunto pouco extenso de estudos sobre estágio, deve-se observar que um número considerável deles versam sobre estágio na formação de profissionais de saúde, especialmente daqueles formados em nível superior, tais como enfermeiros e médicos. Esse número, inclusive, ultrapassa o número de estudos sobre estágio na formação de professores, por exemplo. Não obstante, é no desenvolvimento das atividades de estágio que a mediação entre a escola e o mundo do trabalho está mais evidenciada, permitindo maior aprimoramento do processo formativo, desde que haja sintonia entre a escola e a empresa concedente de vagas de estágio e que esta atividade esteja claramente articulada com a proposta pedagógica do curso que o estagiário frequenta. Neste aspecto, uma investigação sobre como se dá a mediação entre a escola e o mundo do trabalho durante a realização da atividade de estágio supervisionado é bastante oportuna.
É nesta linha de análise que José dos Santos Souza coordena um projeto de pesquisa intitulado "Mediações entre a escola e o mundo do trabalho na formação de técnicos de nível médio", que vem sendo desenvolvido no âmbito do GTPS desde 2013. Parte desse projeto foi desenvolvido como atividade de estágio de pós-doutoramento do professor junto à linha de pesquisa Ciências Sociais na Educação, no Programa de Pós-Graduação em Educação da FE/UNICAMP. Sob supervisão de Aparecida Neri de Souza, o trabalho aborda aspectos da concepção e das diferentes práticas de estágio supervisionado desenvolvidas em instituições de ensino pertencentes à Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica. Neste trabalho, José dos Santos Souza aponta o "Fetiche da Prática" como elemento determinante da perversão do estágio supervisionado em experiência de trabalho precário. O que este professor chama de "Fetiche da Prática" consiste numa postura político pedagógica verificada na ação de parte considerável dos envolvidos na formação de técnicos de nível médio, que considera a prática profissional na empresa uma experiência superior à formação escolar e imprescindível à validação do conhecimento apropriado no ambiente escolar, independente das condições precárias em que a experiência de estágio se dá. Nessa perspectiva, os diversos problemas referentes ao estágio supervisionado não são considerados e, portanto, não solucionados, justamente por predominar a crença de que tal experiência é sempre positiva. Nestas condições, o empresariado encontra campo fértil para empregar força de trabalho jovem, minimamente qualificada, a baixo custo e em caráter temporário, sem qualquer compromisso com a formação desses jovens e, pior, com o consentimento ativo de alunos estagiários, docentes e gestores escolares.
Faculdade de Educação/UNICAMP
O estudo desenvolvido pelo professor se ampara em dados que já foram coletados por meio de questionários aplicados a alunos e professores de cinco instituições de ensino da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, de entrevistas com coordenadores de estágio, com diretores escolares, coordenadores de curso e com orientadores de estágio, além de grupos focais realizados com estudantes matriculados no último ano de cursos técnicos de nível médio dessas instituições.
Embora não se trate de uma abordagem conclusiva, uma vez que a pesquisa ainda está em andamento, a apresentação dos resultados disponíveis nesse seminário certamente trará a tona uma bordagem acerca do estágio supervisionado que poderá contribuir substantivamente para a compreensão dessa prática educativa incondicionalmente tão valorizada e tão pouco questionada.