Trabalho precário disfarçado em atividade de estágio obscurece mediação entre a Escola e o Mundo do Trabalho
Em março de 2013 os
pesquisadores do GTPS vinculados à linha de pesquisa "Trabalho e
Educação" darão início ao desenvolvimento do projeto de pesquisa
intitulado "Mediações entre a Escola e o Mundo
do Trabalho na Formação de Técnicos de Nível Médio: experiências de estágio
curricular na Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica", coordenado pelo Prof. Dr. José dos Santos
Souza. Produzir conhecimento que permita explicar em que aspecto as práticas de estágio na atualidade podem ser identificadas como tipos de trabalho precário é a meta deste projeto de pesquisa.
Nos cursos técnicos de
nível médio sempre existiu preocupação em mediar teoria e prática. As formas
mais comuns adotadas são as aulas práticas em laboratórios, as aulas de campo e
o estágio. Dentre estas alternativas, esta última é de fato a mais polêmica,
pois apresenta muitas dificuldades de realização que, às vezes, comprometem
seus objetivos e metas.
Com as mudanças recentes no trabalho e
na produção, devido à crise estrutural do sistema capital, o estágio curricular
tem assumido formas muito semelhantes ao trabalho precário. Nessas condições,
tais experiências não oferecem qualquer oportunidade formativa consistente além
da experiência de trabalho em si, muitas vezes desvinculada de área de estudo
do estagiário, descaracterizando-se como experiência formativa. Mesmo assim, as
instituições de ensino acreditam no estágio como oportunidade de formação
profissional e, muitas vezes, atribuem a esta experiência o caráter curricular
obrigatório, ainda que apresente inúmeras dificuldades, tais como:
a) mau relacionamento entre instituição
de ensino e empresas;
b)
disparidade entre interesses da instituição de ensino, do estagiário e das
empresas;
c) desarticulação entre currículo do
curso e experiência do estágio;
d) escassez de vagas para estágio
curricular.
Tudo isso contribui para a não
conclusão do estágio, o que protela ou impede a certificação e aumenta o índice
de retenção no processo de formação. O resultado é o condicionamento dos
esforços de ampliação da oferta de educação profissional no Brasil.
Diante desta problemática, um grupo de
pesquisadores do GTPS tomou-se como objeto de estudo as práticas de estágio
curricular desenvolvidas em instituições de ensino técnico de nível médio. O
objetivo dessa pesquisa é explicar se as mudanças recentes ocorridas nas
atividades de estágio permitem que este tipo de atividade seja identificado com
o que a sociologia do trabalho tem denominado de “trabalho precário”.
Para efeitos de recorte sócio
histórico, toma-se como referência o período de 1994 a 2014, por considerar que
neste período a Educação Profissional sofre profundas transformações
quantitativas e qualitativas, ao mesmo tempo em que se intensificam as formas
de precarização do trabalho.
Trata-se de uma pesquisa básica, de
análise qualitativa, de caráter explicativo, que se insere na categoria de
pesquisas do tipo levantamento, que se utiliza de questionários fechados,
entrevistas semiestruturadas, observação não participante e técnica de grupo
focal para coleta de dados, embora também se utilize de fontes bibliográficas
primárias e secundárias.
A análise tem como universo as
atividades de estágio curricular desenvolvidas em cursos técnicos de nível
médio, integrados, concomitantes ou subsequentes, oferecidos por instituições
de ensino componentes da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e
Tecnológica. A amostra é composta por cinco unidades educativas pertencentes a
essa Rede de Ensino, selecionadas uma por cada região do País.
Palavras-Chave: Trabalho;
Qualificação; Emprego; Precarização do trabalho; Ensino Profissionalizante;
Estágio Supervisionado.