domingo, 17 de fevereiro de 2013

Recrudescimento da Teoria do Capital Humano

Intelectuais orgânicos do empresariado buscam reajustar a Teoria do Capital Humano para dar sentido às medidas adotadas nas empresas para recompor as bases de acumulação corroídas pela crise estrutural do sistema capital.

 




A Teoria do Capital Humano nasce da necessidade de alguns teóricos da economia neoclássica explicar satisfatoriamente o crescimento econômico do mundo ocidental nos períodos de estabilidade alcançada nas décadas que se seguem à II Grande Guerra Mundial. Durante certo tempo prevaleceu a compreensão de que esse resíduo da taxa de crescimento era um “terceiro fator” que, para alguns, era gerado pela técnica, e para outros, era simplesmente uma incógnita que a própria economia ainda não conseguira decifrar. Dois autores se destacaram por tentarem desvendar esse mistério: Becker e Schultz. Foram estes os teóricos que “deram a luz” às teorias sobre o capital humano que hoje servem de fundamento para as formulações e práticas na área educacional por parte de diversos governos e organizações da sociedade civil, seja na forma de investimento em recursos humanos, formação de capital humano ou formação/qualificação da força de trabalho.
O cerne dessa teoria consiste na consideração de que o somatório imputado à produtividade do estoque de capital físico e estoque de trabalho da economia, ao longo de determinado tempo, corresponde apenas a uma parcela do crescimento econômico. Há um resíduo que não é explicado pelo acréscimo do estoque de capital e de trabalho. A existência desse resíduo é explicada pelo investimento nos indivíduos, denominado analogicamente capital humano, que engloba o investimento em educação formal, treinamento, saúde etc.
Desse modo, a Teoria do Capital Humano pretende complementar os fatores explicativos do desenvolvimento econômico, segundo a concepção neoclássica, dando sua interpretação à alta de salários do fator trabalho nos países mais desenvolvidos na época de ouro do capitalismo e explicando, no nível individual, os diferenciais de renda.
Em razão das mudanças ocorridas no trabalho e na produção, novas demandas de qualificação da força de trabalho surgiram, bem como novas investidas de desregulamentação de direitos trabalhistas. Estes fatores forçam o empresariado a atualizar seu discurso para manter sua capacidade de consenso na sociedade civil e, assim, manter a hegemonia do projeto burguês de desenvolvimento. O recrudescimento da Teoria do Capital Humano, nesse sentido, ganha escopo considerável na construção do discurso político e ideológico de conformação ética e moral da competitividade acirrada do mercado de trabalho e dos impactos excludentes do avanço tecnológico dos processos produtivos e de gestão do trabalho.