segunda-feira, 23 de março de 2020

CORONAVÍRUS: FLUXOS DO CAPITAL E TERRITÓRIO

Opinião

Por: Marcelo Ramos dos Santos (Mestrando em Educação pelo PPGEduc/UFRRJ, membro do GTPS)

Marcelo Ramos
Ao observarmos a distribuição de casos do Covid-19 no Rio de Janeiro é possível destacar que a maioria deles situa-se na região metropolitana do estado e, de maneira mais concentrada, no município do Rio.
"A Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro informou neste domingo (22) que havia 186 casos e 3 mortes confirmadas de Covid-19 no RJ [...]. Os casos confirmados estão distribuídos da seguinte maneira: Rio de Janeiro - 168; Niterói - 10; Petrópolis - 3; Barra Mansa - 1; Guapimirim - 1; Miguel Pereira - 1; Exterior - 2" (Portal G1 Rio, 22/03/2020, 18h45).
Por sua vez, o inventário de casos do Covid-19 e sua dispersão espacial pelos bairros do município do Rio de Janeiro, publicado no portal G1 de 22/03/2020, permite considerar que a porta de entrada do vírus está associada ao conjunto das localidades onde a população de maior poder aquisitivo costuma habitar.
A "Secretaria Estadual de Saúde contabilizou 119 casos e 3 mortes até sábado. Bairros com mais confirmações são: Barra da Tijuca  (29), Leblon (23), Ipanema (21) e São Conrado (11)." (Portal G1 Rio, 22/03/2020, 16h05).
Em termos percentuais, 70,1 % dos casos localizam-se na área mais rica da cidade.
Duas hipóteses imediatas podem ser consideradas:
  1. os pontos do território do estado mais atendidos pelas redes técnicas (aerovias, rodovias, infovias etc.) e, portanto, mais inseridos nos fluxos do capital são também aqueles que funcionam como pontos de conexão entre os fluxos do Covid-19 e o território fluminense;
  2. nessa fase da Pandemia, as pessoas ricas e da alta classe média, por possuírem maior capacidade de consumo, de viajar ou de contato com estrangeiros, acabam se tornado a parcela da população onde ocorre a maioria dos contágios e se transformam os principais vetores do Coronavírus.
Mas o aspecto mais radical desse processo reside no fato de que, uma vez inserido no território da cidade do Rio de Janeiro, notadamente na Zona Sul, São Conrado, Barra da Tijuca e Recreio; o Covid-19 será disseminado através dos fluxos intrametropolitanos, pois, mesmo com as restrições que estão sendo implementada pelos poderes públicos estadual e municipal, significativa  parcela da classe trabalhadora representada por profissionais da saúde; empregados domésticos como babás, cuidadores de idosos; além de policiais, bombeiros militares e comerciários, ainda será forçada a migrar pendularmente todos os dias dos bairros periféricos e favelas do Rio, da Baixada Fluminense, São Gonçalo e interior na busca pela sobrevivência diária.