domingo, 1 de maio de 2016

NOTA PÚBLICA DE APOIO DO GTPS/UFRRJ AO MOVIMENTO DE OCUPAÇÃO DAS ESCOLAS PÚBLICAS NO RIO DE JANEIRO

Os membros do Grupo de Pesquisas Sobre Trabalho, Política e Sociedade (GTPS) da UFRRJ tornam público o seu apoio ao movimento de ocupação das escolas públicas do estado do Rio de Janeiro promovido pelos estudantes inconformados com os cortes de verba do Governo Estadual, com a falta de democracia nas escolas, com a escassez de material e com a precariedade da infraestrutura dos prédios escolares, dentre outras mazelas provocadas pela “Nova Gestão Pública” que, no caso da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro, se traduz no programa Gestão Integrada da Escola (GIDE).
As iniciativas governamentais desencadeadas em todo o país, desde o Governo Collor de Mello até ao atual Governo Dilma Rousseff, a pretexto de garantir maior eficiência da aparelhagem estatal, buscam nos princípios da “Nova Gestão Pública” -– baseada no receituário neoliberal e endossada pelos apologistas da Terceira Via –- transplantar para a administração pública as duvidosas e malsucedidas estratégias gerenciais da produção enxuta das empresas privadas. No Brasil, em uma versão típica de país dependente, essas estratégias se traduzem em racionalização de recursos humanos e materiais, bem como em cortes orçamentários dos órgãos públicos executores de políticas sociais direcionadas à classe trabalhadora (saúde, educação, trabalho e renda, seguridade social, moradia popular etc). O objetivo principal dessas medidas é o redirecionamento do fundo público para atender exclusivamente as demandas do capital, em detrimento de sua aplicação em políticas sociais para atender, mesmo que precariamente, o conjunto dos trabalhadores.
Essas iniciativas governamentais se expressam tanto nas ações do Governo Federal quanto na dos governos estaduais e municipais, de tal forma que, nos últimos anos, a expressão “Reforma Gerencial” ou simplesmente “Gerencialismo” tem sido utilizada como a panaceia que salvará a gestão pública da ineficiência e da má aplicação de recursos. Pautadas na gestão e controle típicos da empresa privada, como se estas fossem exemplos de racionalidade, eficiência e de boa gestão –- vide as operadoras de telefonia celular, de TV por assinatura, a Supervia ou mesmo a CCR Barcas. De acordo com essa lógica, o novo modelo gerencial da administração pública diz-se: 1) focado no cidadão; 2) orientado por mecanismos de controle de resultados; 3) pautado na flexibilidade administrativa, na multifuncionalidade, no controle de qualidade do serviço e na melhoria contínua de procedimentos e processos; 4) habilitado para o controle social; e 5) comprometido com a valorização do servidor público -- pasmem! Mas os resultados concretos desse novo modelo de gestão só intensifica a precariedade da vida da maioria dos trabalhadores.
A administração educacional não foge à regra. Mudanças substantivas vêm sendo promovidas pelo governo federal e diversos governos estaduais para garantir a qualidade e a produtividade do trabalho escolar, tendo nesse novo modelo gerencial sua referência. Assim, esses governos buscam implementar estratégias gerenciais de controle de resultados que se traduzem em uma verdadeira parafernália de relatórios, planos de metas, políticas de bonificação por produtividade, programas de qualificação profissional etc. O que se tem percebido como resultado imediato deste novo modelo gerencial são, dentre outras tantas: 1) a perda de autonomia pedagógica dos trabalhadores em educação; 2) ineficiência dos programas de qualificação profissional; 3) incentivo à competitividade entre os docentes; 4) intensificação do trabalho escolar; 5) perda de propriedade da proposta curricular das escolas; 6) perda do poder de decisão por parte dos docentes, discentes e pais sobre os rumos políticos e pedagógicos da escola; 7) sucateamento de unidades escolares; 8) desvalorização dos profissionais da educação; 9) perdas salariais; 10) proliferação do contrato temporário de trabalho como meio de burlar a exigência de concurso público para o exercício da função de servidor público. 
Fonte: www.redebrasilatual.com.br
Além do movimento docente, os estudantes têm se insurgido de forma legítima, organizada e responsável contra as consequências nefastas desse novo modelo de gestão, trazendo para o conjunto da sociedade civil um rico conteúdo para a organização e luta em defesa da escola pública. Exemplo disso foram as ocupações por parte de estudantes de mais de 160 escolas públicas no estado de São Paulo, por estarem insatisfeitos com os planos do governo Geraldo Alckmin de fechar 94 unidades de ensino com o intuito de racionalizar o uso de equipamentos escolares, apesar de 30 delas demonstrar bom desempenho, segundo demonstram os próprios instrumentos de avaliação do governo. Em Goiás, os estudantes também promoveram ocupações em 27 escolas estaduais desde dezembro de 2015, em protesto contra o novo modelo de gestão proposto pelo governo Marconi Perillo, que transfere a administração das escolas a entidades filantrópicas ou Organizações Sociais (OS) que, segundo o governo, por serem privadas, poderiam garantir melhor desempenho dos estudantes nas avaliações feitas pelo estado. No Rio de Janeiro, os estudantes já ocupam 73 escolas, além do prédio da presidência da FAETEC, na unidade Quintino (ETE República), em protesto contra a precarização das unidades escolares, que se somam à cobrança por maior protagonismo nas decisões educacionais. A ocupação é por uma escola mais livre e democrática e contra o modelo de ensino adotado pelo modelo gerencial, baseado em um currículo minimalista e em avaliações bimestrais dos alunos que servem de critério para bonificação de escolas e os professores com melhor desempenho. Esses movimentos de ocupação de escola em São Paulo, Goiás e, agora, no Rio de Janeiro têm algo em comum: a forma truculenta como os governos reagem, a forma violenta como a polícia tem reagido aos estudantes em mobilização e a visão criminalista com que alguns juristas têm tratado a questão. Apesar disso, o movimento permanece ativo, forte e crescente, a ponto de servir não somente como denúncia do caráter antipopular das reformas gerenciais promovidas pelos governos estaduais e federal, mas também para limitar determinadas ações pontuais desses governos que atingem principalmente os filhos dos trabalhadores. Tudo isto em um contexto onde milhões e milhões de reais destinados à educação brasileira são transferidos para a iniciativa privada por meio de inúmeros programas sociais como PRONATEC, FIES, PROUNI, PROJOVEM, PROEJA, a pretexto de democratizar o acesso à educação básica e superior.
Fonte da imagem: www.imagens.usp.br
Todos esses movimentos de ocupação de escolas em São Paulo, Goiás e, agora, no Rio de Janeiro têm algo em comum: a forma truculenta como os governos reagem, a forma violenta como a polícia tem reagido aos estudantes em mobilização e a visão criminalista com que alguns juristas têm tratado a questão. Apesar disso, o movimento permanece ativo, forte e crescente, a ponto de servir não somente como denúncia do caráter antipopular das reformas gerenciais promovidas pelos governos estaduais e federal, mas também para limitar determinadas ações pontuais desses governos que atingem principalmente os filhos dos trabalhadores. Tudo isto em um contexto onde milhões e milhões de reais destinados à educação brasileira são transferidos para a iniciativa privada por meio de inúmeros programas sociais como PRONATEC, FIES, PROUNI, PROJOVEM, PROEJA, a pretexto de democratizar o acesso à educação básica e superior.
A reversão desse quadro nefasto em que a “Nova Gestão Pública” -- de cunho neoliberal, mediada pela Terceira Via -- impõe à educação da classe trabalhadora fluminense só será possível por meio da ação direta do movimento social organizado em luta pela defesa da escola pública gratuita e de qualidade referenciada pela sociedade (e não pelo empresariado). Nesse sentido, os membros do GTPS manifestam seu apoio ao movimento de ocupação das escolas pelos estudantes e alimenta a expectativa de unificação desses movimentos com o movimento de greve dos professores da Rede Estadual de Ensino do Rio de Janeiro. São ações como estas que os estudantes estão promovendo que educa a sociedade para uma sociabilidade de novo tipo, na medida em que criam oportunidades para que o caráter excludente e precário para a maioria da sociedade capitalista seja evidenciado para além de sua forma aparente e se possa enxergar com maior nitidez a sua realidade mais concreta.
Nessa oportunidade, o GTPS se coloca à disposição dos estudantes em mobilização para contribuir com a dinamização do cotidiano das ocupações promovendo debates, oficinas, rodas de conversa, cine debate, de modo a levar para discussão o que temos pesquisado sobre a reforma gerencial. Estudantes em escolas ocupadas podem acionar os membros do GTPS pelo e-mail gtps@ufrrj.br ou por comentários a esta postagem.
Todo apoio aos estudantes empenhados na ocupação das escolas estaduais do Rio de Janeiro!